segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pedofilia, o novo fantasma

Como se já não houvesse preocupação de sobra, mais um "fantasma" vem afugentando o sono das famílias - a pedofilia. De fato nunca se ouviu, falou e noticiou tanto o assunto. Há poucos tempo, na França, foram condenadas 62 pessoas por estupro, molestamento, indução à prostituição e falha na proteção a 45 crianças, algumas das quais, bebês de menos de um ano de idade. Muitos dos envolvidos são pais e avós das crianças. Choca saber que 26 dos condenados são mulheres. O julgamento levou quatro meses e provocou comoção mundial. O "chefe" da rede é um homem cujos próprios filhos (quatro) estavam entre as crianças abusadas. Uma menina de apenas 12 anos foi estuprada 45 vezes. A extensão do problema é tal que atinge países de todo o mundo, independentemente do nível de desenvolvimento. Esse e outros casos noticiados recentemente demonstram que, por mais que nos assombre e cause repulsa, há fundamento para o temor que nos aflige. Conseqüentemente, ter informações e dados sobre como orientar os filhos e como prevenir o problema torna-se uma necessidade concreta e imediata.
Comecemos entendendo o que é a pedofilia. De forma bem simples, pode ser definida como abuso sexual (carícias nos órgãos genitais, masturbação, sexo oral, penetração vaginal e anal) praticado por adultos contra crianças ou adolescentes (a idade varia de um país para outro; no Brasil a legislação definiu para tal os menores de 14 anos).
Do ponto de vista médico e psiquiátrico é entendida como uma disfunção sexual. Alguns grupos, porém, consideram-na uma psicopatologia - perversão sexual com caráter compulsivo e obsessivo. O pedófilo é chamado agressor sexual preferencial.
Do ponto de vista do conceito social é definido como atração erótica por crianças, elaborada no terreno da fantasia, que, no entanto, pode se materializar em atos sexuais com meninos ou meninas. Há muitos pedófilos que não cometem violência sexual, satisfazendo-se através de fotos ou imagens despretensiosas de crianças, que lhes propiciam intenso desejo sexual, sem que obrigatoriamente passem ao ato real. Nem todo pedófilo, portanto, é um agressor sexual e vice-versa. Grande parte dos casos de incesto e pedofilia ocorre sem emprego de força física ou atos de crueldade. Mas também existem outros, descritos em diversas partes do mundo, de pedófilos que assassinam as crianças.
Há estreita relação entre pedofilia, incesto e prostituição infantil.
Existem várias formas de abuso sexual:
1) violento e direto - que ocorre sem o consentimento da criança e sempre envolve contato físico ou violação;
2) não-violento ou consentido - que ao contrário do primeiro, conta com a permissão da criança ou adolescente, o que não isenta o agressor de suas responsabilidades. O menor, pelas próprias características da fase do desenvolvimento físico, emocional e social, encontra-se, frente ao adulto, em clara situação de inferioridade e poder, sendo, portanto, facilmente induzido, seduzido ou convencido a permitir a violação, quer ocorra por sedução, ameaça à integridade de familiares ou indução à culpa.

Há ainda um terceiro tipo, o não-físico. Compreende o voyeurismo (invadir a privacidade da criança, para observá-la em sua intimidade), o exibicionismo (tornar visível os próprios órgãos sexuais, mostrar fotos e imagens de atos sexuais normais ou bizarros, e descrever atos sexuais para a criança) e a pornografia infantil (filmar e fotografar crianças nuas, visando divulgação ou venda). O abuso sexual entre crianças, embora menos freqüente, também existe; em geral ocorre por imposição da maior ou mais forte sobre a menor ou mais fraca.
Embora haja relação entre pobreza e prostituição, não se pode simplificar o problema, relacionando-o somente a essas duas variáveis. É importante considerar o aumento da prostituição infantil: dados de 1996 estimavam em mais de 2 milhões o número de crianças prostituídas em todo o mundo - e o número vem aumentando.
O fato de a sociedade moderna incitar ao desejo irrefletido por bens materiais, ao imediatismo, à beleza eterna, ao sucesso e à fama (de preferência alcançáveis de forma fácil), bem como a desestruturação da família, o tênue limite entre liberdade e licenciosidade e a crise ética tornaram possível a vitimização também de jovens de classes sociais mais favorecidas.
A força do apelo continuado desses "valores" materialistas sobre jovens em formação propicia expectativas e comportamentos que os tornam vulneráveis e suscetíveis à sedução de promessas irreais. Assim, são envolvidos e espoliados. Ao aceitarem certas propostas estão, no fundo, o mais das vezes, acreditando alcançar "sucesso" e "celebridade" rapidamente.
A Internet, por sua vez, tornou muito fácil e praticamente impune a ação e interação entre pedófilos, proxenetas e as crianças. A troca de informações é rápida e anônima, permitindo a organização e divulgação imediata de material pornográfico, além de possibilitar  busca constante por novas vítimas.
A pedofilia tem também forte relação com incesto e com os interditos sociais ligados à sexualidade. Não se pode deixar de mencionar o fato, muito freqüente, de a pedofilia ser praticada por pessoas próximas à vítima, a maior incidência ocorrendo entre pai-filha e padrasto-enteada.  Um estudo, feito nos EUA em 1998, com cerca de dez mil crianças molestadas sexualmente, demonstrou que mais da metade fora vítima de pais, tios, padrinhos e primos mais velhos. Importante destacar que o abuso sexual também vitimiza meninos, embora a prevalência continue com meninas.
As conseqüências para essas crianças são extremamente graves. Podem apresentar, em decorrência, na infância dificuldades de aprendizagem, medo exagerado de adultos e perturbações no comportamento; na adolescência podem surgir dificuldades de identificação de gênero, depressão, anorexia e prostituição entre outros. Na idade adulta e na velhice disfunções sexuais variadas, além de depressão, angústia e dificuldades de realização afetivo-sexual. Muitas das crianças molestadas no passado transformam-se nas molestadoras do presente.
Em geral as vítimas não relatam o ocorrido aos responsáveis, por vergonha ou medo. Apesar disso, "enviam mensagens" de diversas maneiras, quase sempre não-verbais, que permitem suspeitar de situações de maus-tratos e abuso sexual. Contudo, é importante lembrar que as evidências de ocorrência de violência sexual são compostas não só por um, mas por um conjunto de indicadores. É preciso, pois, cuidado, para não incorrer em equívocos graves.
Nos casos em que a criança revela o "segredo", é necessário que os pais tenham muito controle e grande força interior, além de equilíbrio para de fato poder ajudar o filho de forma adequada. Naturalmente, a revelação tende a provocar descontrole, sentimentos de ódio, revolta e desejo de vingança. Se deixarmos transparecer o abalo que o fato gerou (por mais natural que seja) poderemos levar a criança a supor que estamos "zangados" com ela ou envergonhados, confundindo-a ainda mais, aumentando sua sensação de culpa, medo e  agravando seu estado emocional. Portanto, é necessário que lhe seja assegurado apoio, compreensão, proteção e, especialmente, que deixemos clara nossa aprovação pela coragem de nos ter procurado. Também devemos demonstrar e expressar que reconhecemos o conflito e o esforço que fizeram para revelar o fato. É essencial, acima de tudo, garantir que ela será protegida e que também os pais estarão bem e nada sofrerão. Em geral o molestador ameaça os parentes, irmãos ou pais para conseguir seu intento e o silêncio ou anuência da criança.
No artigo abaixo, trataremos dos sinais e sintomas indicativos de molestamento sexual e das providências que pais e educadores devem tomar.


Pedofilia, atuando para prevenir

Como vimos no artigo anterior, os casos registrados de abuso sexual contra menores vem aumentando de forma alarmante. Acredita-se que o total seja ainda mais elevado do que o número oficial, pois provavelmente a maioria nunca vem à tona.
O que todos buscamos ansiosamente é evitar uma ocorrência tão brutal e traumatizante contra aqueles que estão sob nossos cuidados, porque a tendência dos responsáveis, quando tomam conhecimento do ocorrido, é se culparem dolorosamente, por acharem que deviam ter percebido ou que podiam ter evitado o problema. Em geral, isso não corresponde à realidade, mas vale a pena ter noções básicas a respeito, que possam dar mais possibilidades de uma ação preventiva.
Em primeiro lugar é importante saber que o pedófilo normalmente não tem ?cara de mau?, como a nossa revolta poderia fazer supor. Muitos são chefes de família que mantêm, tanto com os filhos como com a esposa, relações normais. Quem molesta crianças, não obrigatoriamente faz o mesmo com seus filhos. Por outro lado, em muitos casos, o molestador é o próprio pai, padrasto, padrinho, um tio ou até mesmo um primo mais velho - enfim pessoas em que todos confiam. Esse fato explica porque é tão difícil identificar o problema logo de início. Na maioria dos casos, a vítima conhece o pedófilo, que age de forma a que ela ?pense? que o que está ocorrendo é normal. Por vezes, a própria criança acaba sentindo prazer nesses contatos, o que torna ainda mais remota a possibilidade de ajuda.
Os molestadores sexuais podem ser pessoas de qualquer nível social e cultural, com predominância do sexo masculino e que, em geral, começam a agir antes dos 30 anos. Verdade é que, perpretado contra parentes ou não, esse tipo de indivíduo sente atração e prazer sexual com crianças.
A prevenção deve incidir, portanto, sobre a criança. Educação sexual atualmente é parte da formação integral da criança, e não pode ser ignorada por pais e educadores. Deve ser iniciada a partir do momento em que a criança pergunta qualquer coisa sobre sexualidade ou reprodução. As respostas devem ser objetivas e claras, e restringir-se ao que a criança indagou. Afinal, seja pela questão da pedofilia, seja pelo aumento da prostituição infantil e juvenil, pela promiscuidade, gravidez precoce ou pelo incremento de doenças sexualmente transmissíveis há motivos de sobra para se trabalhar conhecimentos e valores relacionados à sexualidade e à higidez corporal em geral.
Além desse trabalho, os adultos precisam também estar atentos aos sinais que a criança nos envia, sejam eles físicos ou comportamentais. No mundo vertiginoso em que vivemos tais pedidos de socorro podem passar despercebidos.
Os indicadores comportamentais mais comuns são: mudanças repentinas na forma de agir; aumento intenso da agressividade; interesse súbito e fora do comum por assuntos ligados a sexo; pesadelos; insônia; depressão; insistência em dizer que está sujo/a; reação aversiva a ser tocado/a fisicamente; uso de termos relacionados ao ato sexual incompatíveis com a idade; simulação do ato sexual com brinquedos ou bonecos; preocupação de que haja algo ?errado? com seus genitais; desenhos, pinturas ou outras formas de expressão em que o ato sexual é representado com freqüência e de forma impressiva ou com cores muito fortes; medo descabido de determinadas pessoas; tentativas de fazer ou representar o ato sexual com outras crianças, entre outros.
Os sintomas físicos mais comuns são: irritação (pele avermelhada ou arranhada) e/ou ferimentos na área genital; corrimento e coceira intensa nas áreas genitais; aparecimento de doença venérea e/ou hemorragia vaginal ou anal.
As queixas e atitudes das crianças não podem ser negligenciadas, porém, para iniciar alguma ação efetiva, especialmente com relação aos indicadores comportamentais, é necessária a presença de vários deles ao mesmo tempo, por vários dias seguidamente. Um sintoma ocasional apenas não costuma ter significado para o caso em questão. Já os sintomas físicos citados não podem esperar: a presença de qualquer um deles indica a necessidade de uma ida imediata ao pediatra ou ao clínico (dependendo da idade da vítima), que examinará e fará o diagnóstico diferencial. Essencial é agir sem alarde, sem acusar nem levantar suspeitas que possam depois se revelar infundadas, pois o prejuízo nesses casos também pode ser grande.
Estar atento, agir na prevenção e atuar diante de fatos concretos. Esses são os pilares para que se evitem duas situações extremas: a minimização/descaso diante de um problema real ou o exagero/pânico, que transforma atenção e cuidado em paranóia ou compulsão.
Um último ponto em que não poderíamos deixar de tocar: ao propiciar aos filhos o uso da Internet (um dos meios que mais tem propiciado o crescimento da pedofilia e da prostituição infantil) estabeleça com os filhos, desde o início, as regras de uso. Seja claro em relação ao que pode e o que não pode ser acessado; explique também o ?porque?; explicite quais as responsabilidades que as crianças têm em relação ao benefício recebido, o uso permitido e o que decorrerá caso os acordos sejam rompidos. Às vezes é preciso prevenir para não ter que remediar.

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